Rotura prematura de membranas na prematuridade | Diagnóstico clínico ou ultrassonográfico?
A rotura das membranas, antes do início do trabalho de parto, está associada a um terço dos partos prematuros. O diagnóstico desta condição é essencialmente baseado na queixa e exame clínicos.
INTRODUÇÃO
A rotura prematura de membranas pré-termo (RPMPT), isto é, aquela que ocorre antes do início do trabalho de parto, e abaixo de 37 semanas, está presente em um terço dos nascimentos prematuros, acometendo assim cerca de 3-5% das gestações (1).
A fisiopatologia precisa deste evento não é estabelecida; são fatores de risco conhecidos: infecção intra amniótica, polidrâmnio tenso, antecedente de RPMPT ou colo curto, sangramento ante parto, tabagismo e condições socioeconômicas desfavoráveis (2). Entretanto, vale destacar que, na maioria dos casos, não se identifica causa específica.
O manejo e prognóstico desses casos está relacionado à idade gestacional de ocorrência, período de latência até o parto, condições de vitalidade fetal, presença de sinais de infecção, além de complicações como o descolamento de placenta.
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
Na maioria dos casos, o diagnóstico pode ser estabelecido a partir da história e exame clínicos. A queixa característica é de perda vaginal súbita de líquido claro ou amarelado, que molha as vestes. Relatos atípicos incluem perda em pequena quantidade, de maneira contínua, ou intermitente.
O exame especular é patognomônico quando revela presença de líquido coletado no fórnice posterior da vagina. Pode-se observar ainda a saída ativa espontânea do líquido amniótico, através do orifício do colo, ou mediante manobras de tosse e Valsalva. Além disso, avaliam-se as condições do colo uterino e sinais de prolapso do cordão ou procidência de parte fetal.
Quando não há indícios de trabalho de parto, o toque vaginal deve ser evitado para reduzir o risco de infecção ascendente, e prolongar o período de latência (3).
ULTRASSONOGRAFIA
Na rotura prematura de membranas, o exame ultrassonográfico tem papel secundário, e não é considerado método diagnóstico.
O exame inicial revela oligoâmnio em cerca de dois terços dos casos, baseado no critério de índice do líquido amniótico < 5, ou 47% dos casos, quando baseado em medida do maior bolsão vertical < 2cm (4).
O seguimento ultrassonográfico seriado é realizado, especialmente nos casos em que a rotura das membranas acontece antes da viabilidade fetal ou na prematuridade extrema, para seguimento do crescimento fetal e avaliação do volume de líquido amniótico.
TESTES ADICIONAIS
A pesquisa de glicoproteínas placentárias, em secreção vaginal, pode ser útil nos casos duvidosos, a despeito de avaliação clínica cuidadosa. Os testes comerciais disponíveis no mercado brasileiro incluem a pesquisa de alfa1-microglobulina placentária ou da proteína-1 ligadora do fator de crescimento semelhante à insulina. Ambos os testes são descritos com elevadas sensibilidade e especificidade, porém sujeitos a limitações especialmente relacionadas ao custo (5).
Como recurso final, há a opção de punção da cavidade âmnica para instilação de índigo carmim. Este procedimento nem sempre é possível devido às dificuldades técnicas relacionadas à punção quando o volume do líquido amniótico está muito reduzido. O teste é considerado positivo quando se observa saída de líquido de coloração azulada, no forro ou tampão vaginal. Com o advento dos testes bioquímicos descritos acima, esta estratégia tem sido abandonada devido às dificuldades em secreção vaginal O uso do corante azul de metileno foi abandonado devido ao risco de meta hemoglobinemia, óbito fetal e atresia intestinal (6,7).
CONCLUSÃO
A rotura das membranas, antes do início do trabalho de parto, está associada a um terço dos partos prematuros; e o seu diagnóstico é essencialmente baseado na queixa e exame clínicos. Nesses casos, a ultrassonografia é um método adjunto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Mercer BM, Goldenberg RL, Meis PJ, Moawad AH, Shellhaas C, Das A, Menard MK, Caritis SN, Thurnau GR, Dombrowski MP, Miodovnik M, Roberts JM, McNellis D. The Preterm Prediction Study: prediction of preterm premature rupture of membranes through clinical findings and ancillary testing. The National Institute of Child Health and Human Development Maternal-Fetal Medicine Units Network. Am J Obstet Gynecol. 2000;183(3):738-45.
- Harger JH, Hsing AW, Tuomala RE, Gibbs RS, Mead PB, Eschenbach DA, Knox GE, Polk BF. Risk factors for preterm premature rupture of fetal membranes: a multicenter case-control study. Am J Obstet Gynecol. 1990;163(1 Pt 1):130-7.
- Schutte MF, Treffers PE, Kloosterman GJ, Soepatmi S. Management of premature rupture of membranes: the risk of vaginal examination to the infant. Am J Obstet Gynecol. 1983;146(4):395-400.
- Mercer BM, Rabello YA, Thurnau GR, Miodovnik M, Goldenberg RL, Das AF, Meis PJ, Moawad AH, Iams JD, Van Dorsten JP, Dombrowski MP, Roberts JM, McNellis D; NICHD-MFMU Network. The NICHD-MFMU antibiotic treatment of preterm PROM study: impact of initial amniotic fluid volume on pregnancy outcome. Am J Obstet Gynecol. 2006;194(2):438-45.
- Liang DK, Qi HB, Luo X, Xiao XQ, Jia XY. Comparative study of placental α-microglobulin-1, insulin-like growth factor binding protein-1 and nitrazine test to diagnose premature rupture of membranes: a randomized controlled trial. J Obstet Gynaecol Res. 2014;40(6):1555-60.
- McEnerney JK, McEnerney LN. Unfavorable neonatal outcome after intraamniotic injection of methylene blue. Obstet Gynecol. 1983;61(3 Suppl):35S-37S.
- Kidd SA, Lancaster PA, Anderson JC, Boogert A, Fisher CC, Robertson R, Wass DM. Fetal death after exposure to methylene blue dye during mid-trimester amniocentesis in twin pregnancy. Prenat Diagn. 1996 Jan;16(1):39-47.